Como sabem um dos predicados do Horoduo foi sempre o de permitir e até incentivar a participação de todos que queiram contribuir para o blog. Desta forma é com muito gosto que partilhamos o seguinte artigo da autoria do Diogo Costa.
Eu sei, passaram-se quantos meses? Talvez anos. Sim, 2 anos desde que anunciei a minha saída do Horoduo.
Na altura tinha a meu ver demasiados projectos em mão, tinha dúvidas sobre a minha carreira, tinha escolhas a fazer, e por muito que amasse todos os meus projetos, por respeito aos meus colegas envolvidos tive de optar pelos que na minha opinião faziam parte das áreas que queria ainda explorar e melhorar.
Não me arrependo das escolhas, creio que tudo tem o seu tempo desde que continuemos a trabalhar.
O meu “retorno” como contribuidor à Horoduo em grande parte deve-se à falta que eu tenho tido de estar em todos os planos, de ter projetos com amigos, de fazer algo pela diversão e paixão numa perspectiva pessoal e não corporativa, apesar de a adorar.
Escrever na minha língua pode bem ser uma das coisas que mais entusiasmo me traz nos dias de hoje.
Volto também pois acho que é importante, no plano nacional, estarmos cá para todos, de estarmos unidos e de lutar pelo desenvolvimento de algo que seja nacional e que sirva de base de apoio a todos nós caso precisemos, especialmente nos tempos de incerteza que correm.
Uma promessa quebrada
Depois destes 2 anos de crescimento estável no que toca ao retalho da relojoaria, não só a nível nacional como a nível internacional, encontramo-nos a enfrentar uma epidemia global que subsequentemente afeta não só as pessoas como os seus negócios.
Com grandes probabilidades de encontrarmos, mais à frente, uma grande recessão, apesar das previsões de recuperação a 12 meses serem “agradáveis” e de se falar numa recessão em “V”, temos de nos preparar para encontrar novas formas de não só gerir o negócio como também de modificar como interagimos, vendemos, compramos e experienciamos tanto o luxo como o seu segmento, neste caso, a relojoaria.
Desde cedo sabemos que o mercado asiático é um dos principais “pilares” do que é hoje a relojoaria. China e Hong Kong por si só representam grande parte das importações e vendas, tanto por consumo nacional como por consumo dos seus cidadãos fora do país.
As grandes capitais cosmopolitas europeias sentem agora o efeito da quebra no turismo que trazia milhões de consumidores a cidades como Milão, Paris, Moscovo, Londres e Genebra (sem falar em cidades como Lucerna que dependem totalmente do consumo asiático).
Quando falamos da indústria da relojoaria tradicional falamos de um segmento do luxo ainda extremamente preso ao comércio in-store. Especialmente a nível nacional.
Não é uma tarefa fácil, de todo. A mudança para o digital tem sido no objectivo da criação de alcance, notoriedade de marca e conversão para a loja. Algo que nos dias que correm é como direcionar pessoas para uma porta reforçada e fechada que tão cedo não vai abrir.
O efeito dominó
Desde Março de 2019 que temos sentido uma quebra a nível mundial no consumo de relógios suíços, tendo os protestos de Hong Kong como principal influenciador.
Quebras de 20/30% no consumo levou a que os Estados Unidos e o Reino Unido fossem agora a aposta segura, mesmo que insuficiente, até todos os tumultos passarem.
Ninguém esperava, no entanto, que depois destes tumultos por si só algo arrasadores se seguisse uma pandemia global que nos tirasse o que mais importante temos nesta indústria. Sendo esta a ligação pessoal e física ao comprador, a experiência in-store que tanto significa para nós apesar das múltiplas compras que agora fazemos online.
Consideramo-nos compradores online porque gostamos? Ou apenas por uma questão de termos acesso a preços melhores em plataformas não controladas pelas marcas/retalhistas?
Preferirmos realmente o online? Ou simplesmente é uma fuga aos preços praticados pelas marcas e retalhistas, que nos retira a experiência de que tanto gostamos, aquando da compra de uma peça na loja?
Acredito que tempos difíceis se seguem para uma indústria que tão pouco entrou no e-commerce. Indústria esta com pouca confiança na compra online e sem fatores humanos envolvidos, e especialmente sem a nossa amada experiência de compra na loja.
O presente
Enfrentamos agora quebras de 22% a nível mundial segundo as estatísticas da federação de alta relojoaria, lançadas no dia 21 de Fevereiro.
Vemos também que os EUA representavam agora uma subida de 17% algo que deve cair drasticamente no mês de Março devido ao surto de COVID-19.
Quebras estas que tão pouco parecem estar a impulsionar o consumo online.
Temos agora a oportunidade perfeita de pararmos, pensarmos e atualizarmos a nossa abordagem relativamente ao que os apaixonados pela relojoaria querem, onde eles se situam e como compram e se apaixonam por este mundo.
As marcas independentes e micro-marcas, no entanto, têm percebido perfeitamente a necessidade do online para a captação de clientes e apaixonados. Marcas com um serviço e presença pessoal em todas as suas plataformas conseguem assim tornar o ambiente online um pouco mais “luxuoso” e personalizado.
Não nos podemos esquecer que além de um produto de excelência gostamos ainda mais da forma como nos o apresentam, todo o processo depende de pessoas e do romantismo que é comprar um relógio.
As pessoas, e não marcas sempre foram e sempre serão o passado, presente e futuro da relojoaria em todas as frentes, consumidor e vendedor. Vendedor este que pode também estar presente online e proporcionar, não a mesma, mas uma maneira diferente de proporcionar uma experiência personalizada ao comprador.
A meu ver é este o futuro que para nós ainda parece distante. Não por falta de trabalho mas pelo caminho que ainda temos pela frente.
Como podemos usufruir do élan de comprar um relógio numa loja mas no mundo online?
A oportunidade de desenvolvimento deste tipo de ideia para aplicarmos no plano nacional está agora à nossa frente. Cabe a nós, todos, idealizar agora o que pretendemos da relojoaria e construímos o caminho para o que agora é, mais do que nunca, obrigatório: o consumo online.
Cordialmente,
Diogo Costa
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