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  • Foto do escritorAndré Sampaio

Hora de descomprimir

O tópico de hoje é, além de um relógio em particular, um estilo de mostrador muito pouco usual e como não podia deixar de ser, do qual eu sou um grande fã.

Hoje vamos descobrir os mostradores com tabelas de descompressão.


Mostrador em metros do Cornavin P810

Se hoje em dia esses cálculos complexos são feitos por pequenos aparelhos que acompanham os mergulhadores e de preços acessíveis, temos de recuar até uma altura em que esses mesmos cálculos eram feitos com recurso a tabelas que os mergulhadores tinham de levar consigo em forma de cábula ou com recurso aos relógios de pulso como auxiliares.

O primeiro lugar em que os relógios mostraram informações sobre as tabelas de descompressão foi no mostrador e o primeiro que o fez foi em 1956, um relógio desconhecido até para a maioria dos aficionados e ainda o sonho para alguns outros, como eu.




O Cornavin P810 AMF DIVER, um relógio em aço de 42 mm, enorme para uma época em que a elegância era sinónimo de qualidade e por isso os relógios mais procurados eram de estilo clássico e de pequenas dimensões. Entre as suas particularidades está o calibre com que vinha equipado, um calibre Felsa 810 Jumping Hour e o primeiro mostrador com tabela de descompressão. Um verdadeiro "tool watch" do qual muito poucas unidades foram fabricadas, até porque a atividade subaquática naquela altura ainda era algo muito raro num ambiente que não fosse militar ou cientifico e porque muito provavelmente ninguém se atreveria a usar um relógio destas dimensões e características fora do ambiente para o qual foi criado. O Cornavin era um relógio nascido com uma função exclusiva e um propósito único, o mergulho! É raro encontrar um relógio destes no mercado e o preço atingido por um exemplar em bom estado andará na casa dos 12 a 18 mil euros, ainda assim valores não exagerados dado que o numero de unidades produzidas deste modelo, segundo as estimativas dos colecionadores, será tão baixo como 150 exemplares apenas. Presentemente a Cornavín será uma marca desconhecida para muitos, embora na época fosse sinônimo da mais alta qualidade suíça.

Este relógio pode ser encontrado com as escalas em metros ou em pés e ainda com duas versões de mostrador, uma primeira versão com uma âncora e a inscrição Mod.Dep (modèle déposé) que se traduziria para Patent Pending ou Modelo Registado e uma outra versão já com o logo AMF que pertencia a uma outra empresa que fabricava equipamento de mergulho e que se juntou à Cornavin na exploração deste modelo.




A forma de utilizar estas tabelas de descompressão será pelo tempo de mergulho e respectiva profundidade. Por exemplo utilizando o mostrador em metros do Cornavin temos uma escala central às 12h com vários tipos de profundidade, 25, 30, 35 e 40 metros. Seguindo cada uma dessas linhas até à duração do mergulho temos o tempo de descompressão. Por exemplo um mergulho a 30 metros de profundidade com uma duração de 35 minutos significaria 10 minutos de descompressão, enquanto que o mesmo tempo de mergulho a 40 metros de profundidade já necessitava de 45 minutos de descompressão.




O segundo relógio que apresentou uma tabela de descompressão no mostrador foi o Mido Powerwind Ocean Star, mais conhecido por Mido “Rainbow”. Este relógio foi lançado em 1959 e foi fabricado até 1965. Apresentava uma caixa monobloco de 38mm resistente a uns incríveis 300 metros! Tinha um calibre AS 1717 e a sua tabela de descompressão incluía cores para facilitar sua leitura em relação ao Cornavin monocromático. Também foi lançado nas versões em metros e pés e ainda tinha a possibilidade de ter a versão normal ou com data. É um relógio muito em voga nos dias de hoje devido ao seu look funky e muito divertido e que com os seus 38mm é perfeito para qualquer utilizador. Infelizmente também não são muito comuns e é sem duvida o modelo mais valorizado da Mido atingindo valores entre os 7 e os 10 mil euros.


Mido "Rainbow" Ref.5907


Pouco depois, em 1961, surgiu aquele que é sem duvida o modelo mais impressionante de todos, o Vulcain Cricket Nautical (Ref. S2321). Fantástico relógio com caixa Super Compressor EPSA de 42mm resistente até aos 300m e que incorpora o avançado calibre Vulcain 120, com alarme para avisar o mergulhador de um intervalo de tempo e com mostrador rotativo com tabela de descompressão e janela onde são exibidos tempos de descompressão e paragens.



Uma inovação que ficou famosa por Hannes Keller, quebrando o recorde mundial de profundidade de mergulho em 1962 quando atingiu os 333 m (1000 pés) com um Vulcain no pulso e que foi também o primeiro mergulho a utilizar uma mistura de gases com Hélio. Infelizmente neste mergulho duas pessoas morreram, o mergulhador que o acompanhava, Peter Small e outro dos jovens mergulhadores de apoio. Claro que esses trágicos acontecimentos não passaram para a publicidade feita ao evento...

Um Vulcain Cricket Nautical tem um preço de mercado que andará na casa dos 15 a 20 mil euros, sendo ainda hoje um relógio com um conjunto de funções e particularidades muito especiais.


Sendo estes três modelos os mais significativos representantes dos relógios com escalas de descompressão, no final dos anos 60 tivemos mais algumas marcas a aventurarem-se neste género das quais eu destacaria a Fortis com as versões Marinemaster lançadas desde 1968 e o também raríssimo Buler Aquarius também vendido sob a marca Lo Herma. Modelos com construções mais simples e que podem ser adquiridos na casa das centenas de euros, tenham especial atenção aos Fortis Marinemaster que infelizmente são um dos modelos mais falsificados.




Restando apenas mencionar o Vulcain Cricket Nautical S2322, com a mesma caixa Super Compressor de 42mm usada pela Fortis, com o calibre Vulcain 120 modificado com alarme e o Hamilton Pan-Europ 702 de 1970 com o calibre Hamilton 64 que era basicamente um ETA 2452.





Estes são os únicos representantes desta, será que podemos chamar complicação?

Como muitas outras complicações utilizadas na relojoaria que hoje em dia poderão não ter qualquer importância mas que permanecem como um registo histórico na função e inovação que os relógios tiveram ao longo dos tempos.

Como eu costumo dizer são registos de museu que podemos usar no pulso.

Sem duvida um privilégio! André Sampaio


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