Bem, chegou aquela altura de enfrentar aqueles assuntos constrangedores. Ninguém quer falar nisso, ignoramos, fingimos que não é um assunto sequer.
Mas somos o Horoduo e todos os assuntos têm que ser enfrentados. E o assunto é...smartwatches!
Desde o lançamento do mais famoso de todos, o Apple iWatch, que o assunto smartwatch paira sobre a relojoaria.
Devem as grandes marcas preocuparem-se? Devem as pequenas marcas começarem a tremer? A relojoaria tradicional vai acabar? Os smartwatch são de facto o futuro? Estas e muitas outras questões levantaram-se quando estes aparelhos surgiram em força com o Apple iWatch, um gigante que já “afundou” muitos outros gigantes.
Daí o nosso Exame hoje ser um pouco diferente do habitual e desta vez saímos à rua com um Tag Heuer Connected 45 e um BMW i8. Porque?? Porque cada um deles na sua categoria é um exemplo do melhor que se faz e ambos enfrentam o mesmo tipo de preconceitos.
Serão o futuro? Serão uma primeira abordagem e um primeiro passo para algo ainda mais avançado? Irão destronar o mercado tradicional como o conhecemos?
São uma alternativa viável aos produtos atuais? Veremos....
Esta parceria BMW i8/Tag Heuer Connected torna-se ainda mais evidente porque cada um deles é um híbrido no seu próprio meio. O BMW i8 porque fazendo-se valer da sua tecnologia eléctrica torna-se um super desportivo de sonho, mesmo não abandonando totalmente a tecnologia tradicional dos motores de combustão para os mais puristas. Ou seja, não é um automóvel totalmente elétrico pois ainda mantém um motor a gasolina para agradar a um maior leque de potenciais compradores ainda não totalmente convencidos da vertente eléctrica.
Assim como este Tag Heuer Connected. Que tendo um “coração” totalmente digital não abandona a construção tradicional a que estamos habituados e mantém a imagem mais fiel de um relógio tradicional e com todo o ADN desportivo encontrado na maioria das peças Tag Heuer. Podendo inclusive ser montado um módulo totalmente mecânico em lugar do módulo digital. Daí estarmos na frente de um híbrido também, pois à primeira vista este smartwatch passará despercebido na maioria dos pulsos como um relógio tradicional.
Antes de mais é de salientar que várias marcas de relojoaria abordaram este tema com soluções e ofertas muito diferentes, o que por si só é uma resposta clara a este tema. Ninguém quer ficar de fora ou menosprezar este segmento e cada um tenta encontrar a sua própria solução e fatia no mercado.
Avançando para este Tag Heuer Connected 45, 45 referindo-se ao tamanho da caixa. Fantástica diga-se já! Com um excelente acabamento, leve e de um conforto que o tamanho não deixava antever. Aqui nota-se já a experiência da Tag Heuer na construção de caixas de tamanho generoso. Complementado por uma das melhores braceletes em borracha que experimentamos ultimamente assim como o fecho, magnífico e permitindo um ajuste muito rápido no tamanho da bracelete. Nota máxima em ergonomia e conforto!
Quanto à parte “tradicional” do relógio nada a apontar. Típico design Tag Heuer mais do que testado e aprovado.
A parte digital é um pouco mais difícil de avaliar. Abordamos este Exame com a mente aberta e dispostos a utilizar este relógio inteligente de uma forma que normalmente não faríamos. Aqui utilizamos este relógio como leigos que somos na matéria.
A instalação e emparelhamento correu bem, de forma rápida e sem grandes problemas. Primeira novidade para nós, para o emparelhamento do smartwatch com o nosso smartphone funcionar temos que fazer o download de uma app e mantê-la sempre aberta em segundo plano no nosso aparelho. Se por algum motivo ou inadvertidamente fecharmos a app perdemos o emparelhamento do smartwatch.
Após esta pequena habituação tentamos então tirar o máximo partido do uso diário do nosso relógio inteligente. Uma pequena incursão pelos menus e opções e alteramos o look do nosso ecrã, que pode ser customizado com vários tipos de mostradores. Tradicional de 3 ponteiros, GMT, crono, crono só com um ou dois Sub mostradores, etc. Podemos inclusive escolher a cor de alguns ponteiros, escalas, etc.
Podemos até fazer o download e instalação de várias apps diretamente do relógio pois podemos inclusive ligá-lo a uma rede Wi-Fi. Surpreendidos? Nós sim!
Uma pesquisa rápida pela meteorologia, apps de fitness e inclusive um ou dois pequenos jogos. Isto promete!!!
Passado o encanto inicial esquecemos que temos no pulso um relógio inteligente e usamos este Tag Heuer Connected como um relógio tradicional, passa despercebido aos amigos que estão habituados a ver-nos com relógios diferentes diariamente e ninguém se apercebe que estamos a usar um smartwatch. Mas de facto nem nós nos apercebemos disso pois pouca diferença fez no nosso dia a dia. A razão de ser de qualquer gadget ou aparelho começado por smart deveria ser a de nos facilitar a vida mas de facto não encontramos nenhuma vantagem significativa pela utilização deste aparelho. A única função real deste aparelho é a de nos transmitir as notificações recebidas no telemóvel e pouco mais. Recebemos um aviso de chamada, um aviso de sms ou uma notificação e podemos rapidamente ler a mesma, mas não responder. Mas como o smartwatch só funciona se estiver emparelhado com o smartphone isto quer dizer que obrigatoriamente o mesmo está connosco! E que iremos ter que o utilizar se quisermos responder a alguma notificação.
Ora a única utilidade para este sistema é se tivermos o nosso telemóvel em silêncio ou numa situação que não o possamos utilizar e recorremos ao smartwatch para ler as notificações recebidas.
Numa ou outra situação poderemos dar utilidade a alguma app mais específica, mas sempre com a obrigatoriedade de termos o nosso smartphone emparelhado. Isto acaba por tornar o smartwatch apenas um “apêndice” do nosso telemóvel e pouco mais, pois de maneira autônoma a única coisa que este smartwatch faz é, adivinhem....dar-nos as horas! De resto estamos sempre “presos” ao nosso telemóvel o que acaba por ser contra natura a razão de existir um smartwatch em primeiro lugar.
Quando estes aparelhos podem de facto ter uma utilização mais abrangente sem a obrigatoriedade de termos o nosso telemóvel emparelhado e com a app aberta lembrem-se, talvez possam de facto ter um papel mais importante no nosso dia a dia e facilitar-nos qualquer tarefa.
Neste momento tem uma utilidade muito limitada e o investimento numa peça destas acaba por não ser tão smart assim...
No entanto, como todas as novas tecnologias em fase inicial, temos a certeza que quando tiverem mais funções, mais possibilidades de uso, mais independência do nosso smartphone serão com certeza um gadget que roubaram o lugar a alguns relógios, quanto mais não seja porque estarão de facto a roubar o espaço físico no pulso!
Serão possivelmente uma primeira escolha para muitos jovens e uma alternativa válida no segmento dos relógios entre 500€/1000€. Isto é uma grande fatia de mercado que assustará já muitos fabricantes.
Não irá afetar as vendas da relojoaria de luxo, as grandes marcas não serão muito afetadas por este advento pois a encanto da mecânica tradicional será ainda maior quantos mais gadgets existirem.
O boom do vintage, por tudo que era da nossa infância, do tempo dos nossos pais e avós é apenas um reflexo do excesso de tecnologia estéril que está presente na nossa vida diariamente.
Os smartwatch nunca acabarão com a relojoaria mecânica, poderão no entanto ocupar o lugar no pulso de muitos jovens que o irão preferir aos relógios tradicionais.
Será um segmento que terá um crescimento nos próximos anos e que as marcas tradicionais terão que ter muita atenção. Afinal a crise do Quartzo ainda está muito presente e ninguém quer cair no mesmo erro outra vez.
Até lá provavelmente ainda teremos mais destes “híbridos” que assim como o BMW i8 caminham solitariamente tentando encontrar o seu lugar. Mas de facto o i8 deixou-nos muitas saudades, o Tag Heuer Connected foi rapidamente esquecido....
Resta-nos agradecer à Caetano Baviera de Vila Nova de Gaia, parceira do Horoduo, pelo empréstimo deste magnífico BMW i8 que poderão ver e experimentar nessas instalações. O nosso muito obrigado pela fantástica experiência!
Cumprimentos híbridos,
Até à próxima!
André Sampaio
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